TEMPO PER ANNUM - APÓS PENTECOSTES

(22 de maio a 26 de novembro de 2016)

Horários de Missa

CAMPO GRANDE/MS
Paróquia São Sebastião


DOMINGO
16:30h - Confissões
17h - Santa Missa

TERÇA A SEXTA-FEIRA
(exceto em feriados cívicos)
11h - Santa Missa

1º SÁBADO DO MÊS
16h - Santa Missa

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Nossa Sr.ª das Graças


Ave Maria, gratia plena;
Dominus tecum:
benedicta tu in mulieribus,

et benedictus fructus
ventris tui Iesus.

Sancta Maria, Mater Dei
o
ra pro nobis peccatoribus,
nunc et in hora
mortis nostrae.

Amen.

Nosso Padroeiro


Sancte Sebastiáne,
ora pro nobis.

Papa Francisco


℣. Orémus pro Pontífice nostro Francísco.
℟. Dóminus consérvet eum, et vivíficet eum, et beátum fáciat eum in terra, et non tradat eum in ánimam inimicórum ejus.
℣. Tu es Petrus.
℟. Et super hanc petram ædificábo Ecclésiam meam.
℣. Oremus.
Deus, ómnium fidélium pastor et rector, fámulum tuum Francíscum, quem pastórem Ecclésiæ tuæ præésse voluísti, propítius réspice: † da ei, quǽsumus, verbo et exémplo, quibus præest, profícere: * ut ad vitam, una cum grege sibi crédito, pervéniat sempitérnam. Per Christum, Dóminum nostrum.
℟. Ámen.

Dom Dimas Barbosa


℣. Orémus pro Antístite nostro Dismas.
℟. Stet et pascat in fortitúdine tua Dómine, sublimitáte nóminis tui.
℣. Salvum fac servum tuum.
℟. Deus meus sperántem in te.
℣. Orémus.
Deus, ómnium fidélium pastor et rector, fámulum tuum Dismam, quem pastórem Ecclésiæ Campigrandénsis præésse voluísti, propítius réspice: † da ei, quǽsumus, verbo et exémplo, quibus præest, profícere: * ut ad vitam, una cum grege sibi crédito, pervéniat sempitérnam. Per Christum, Dóminum nostrum.
℟. Amen.

Pe. Marcelo Tenório


"Ó Jesus, Sumo e Eterno Sacerdote, conservai os vossos sacerdotes sob a proteção do Vosso Coração amabilíssimo, onde nada de mal lhes possa suceder.

Conservai imaculadas as mãos ungidas, que tocam todos os dias vosso Corpo Santíssimo. Conservai puros os seus lábios, tintos pelo Vosso Sangue preciosíssimo. Conservai desapegados dos bens da terra os seus corações, que foram selados com o caráter firme do vosso glorioso sacerdócio.

Fazei-os crescer no amor e fidelidade para convosco e preservai-os do contágio do mundo.

Dai-lhes também, juntamente com o poder que tem de transubstanciar o pão e o vinho em Corpo e Sangue, poder de transformar os corações dos homens.

Abençoai os seus trabalhos com copiosos frutos, e concedei-lhes um dia a coroa da vida eterna. Assim seja!
"

(Santa Teresinha do Menino Jesus)

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27 de jan. de 2012

Missa do Galo: "É um menino, uma criança, mas é o Deus de todos os séculos, é o Deus Verdadeiro."


Homilia da Missa do Galo, celebrada à meia-noite, de 24 para 25/12/2011.


Pe. Marcelo Tenório


Nesta noite Santa, é celebrada a encarnação do Verbo Divino. Todos os mistérios da vida de Nosso Senhor começam aqui nessa noite Santa de Natal.

Deus sempre existiu desde toda a eternidade. Ele que é único em três pessoas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo – É pleno, Se basta, não tem necessidades de nada para ter e ser na Sua infinita grandeza. De forma que, como diz São João: “Deus é Amor”, e neste Amor estão envolvidos o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Em Deus não há carência, pois Ele nada deseja a não ser a Ele mesmo.

Quando desejamos algo, é porque não o possuímos. Desejar alguma coisa é sinal de que não a temos e por isso a desejamos. Em Deus não há desejo, porque Ele se basta. Deus não deseja nada que não seja a Ele mesmo. Nisto consiste o grande mistério da noite de Natal. Porque Deus quis desejar o homem, e criou o homem à sua imagem e semelhança. E, devido ao pecado original, devido à desgraça que assolou a humanidade, devido à humanidade ter sido definitivamente perdida por sua separação de Deus, Deus envia o Filho, que é Deus verdadeiro, para que, tornando-se homem como nós, igual a nós em tudo, menos no pecado, assumisse o pecado e a maldição que caíram sobre a humanidade. Por isso que, mais tarde, São João vai dizer: “Ecce Agnus Dei, qui tollit peccata mundi” – Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, o “cordeiro expiatório”, Aquele que, mesmo inocente, assume por nós a culpa dos pecados da humanidade inteira.

E este é o grande mistério desta noite de luz, desta noite de glória, desta noite de Natal: Deus que desce. É verdade. Deus não pode fazer outra coisa a não ser descer; subir mais não pode, pois já é infinitamente grande, então Ele desce. É o sinkatábassis, o rebaixamento: Deus assume a natureza humana, Ele se deixa aprisionar nessa natureza fragilizada, e se faz criança no seio da Virgem Maria, que não é uma pessoa qualquer; muito pelo contrário, Nossa Senhora é aquela criatura na qual Deus colocou todas as suas Graças, tendo em vista, justamente, esta grandeza que envolveria Nossa Senhora, isto é, a maternidade divina. É através – e por causa desta maternidade divina – que Deus a fez mais esplendorosa que o sol, mais formosa que a lua; não só exteriormente, mas sobretudo na alma.

Imaginemos a alma de Nossa Senhora, que grandeza! Ela teria que receber em si o próprio Deus, o Deus que criou o céu e a terra, o Deus que criou as coisas visíveis e invisíveis... O Deus que a criou, agora criança indefesa no seu ventre materno! Desde a Anunciação – 25 de março – até a noite santa de 25 de dezembro... E, hoje, Deus desce. Deus desce do céu, torna-se visível numa criança. E Nossa Senhora, e São José contemplam esta criança nascida.

São João vai dizer no Prólogo: “Veio para os seus, mas os seus não O receberam”.

Sejamos nós uma manjedoura; esteja o nosso coração pronto para este acolhimento verdadeiro, iluminado, bem preparado, já que passamos o tempo do Advento nesta constante busca de estarmos prontos justamente para esta noite, a fim de que esta criança pudesse nascer em nosso coração. E se esta criança nasce em nosso coração que abrimos, porque preparamos a nossa alma, logo é Natal em nós. E em nós sempre será Natal se conservarmos em nós esta Criança Divina que hoje nasce para abraçar o mundo inteiro – urbi et orbi – com a Sua graça e com a Sua misericórdia.
Ele, que recebe o Nome de Iesus, ou de Yeshuha – Deus salva – e no Seu Nome está a Sua missão: o Salvador. Por isso, no Evangelho, os pastores são surpreendidos pelos anjos, que dizem: “Anuncio-vos uma grande alegria: nasceu-vos o Salvador, Cristo, o Senhor!” E o anjo guia os pastores, que encontram o Menino Deus deitado numa manjedoura e envolto em faixas.

Uma noite belíssima para nós, cristãos. O gesto de Deus que “desce”, o “rebaixamento” de Deus, nos leva e nos ensina também a “descer”, a dobrar o joelho, a estarmos prostrados diante do Salvador que chega.

É um menino, é uma criança, mas é o Deus de todos os séculos, é o Deus Verdadeiro. 

Nos ícones antigos, sobretudo lembrando o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo socorro, observem: a criança sempre tem um rosto envelhecido, uma face enrugada, uma feição de velhice. Não para mostrar decrepitude, mas para indicar que Aquela criança é Deus. E, sendo Deus, é Eterno. E, sendo Deus, é sábio: a sabedoria que envolve Aquela criança é a sabedoria divina.

Acolhamos esta criança que chega! Abramos o nosso coração para que Ela entre e possa ser bem acolhida! Mas não nos esqueçamos, jamais, que esta criança que deseja nascer hoje para nós, é o Deus de todos os séculos, o Deus Verdadeiro.

Que Ele encontre o nosso coração aberto, a nossa alma límpida, iluminada, para que em nós Ele tenha pousada.

Que não sejamos mais do grupo daqueles para os quais Ele veio, mas que O rejeitaram, como lembra São João no Prólogo: “Veio para os seus, mas os seus não O quiseram receber”. Nós, não! Estamos aqui porque queremos que Ele realmente entre, tome posse de nossa alma, que realmente seja Nosso Senhor.


Homilia proferida na Missa da Meia-Noite (Missa do Galo), de 24 para 25 de Dezembro de 2011.

24 de jan. de 2012

São Sebastião, ensina-nos a desprezar toda honra e glória, por Cristo Nosso Senhor!




Homilia da Festa de São Sebastião (20/01/2012)


Pe. Marcelo Tenório

. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.

Celebra-se hoje, nesta Matriz, a solenidade de seu padroeiro, São Sebastião, que viveu sob o governo de Diocleciano, um dos piores Imperadores de Roma a massacrarem os cristãos. São Sebastião poderia, de certa forma, ter tido uma ascensão política muito grande, a tal ponto de ser um dos mais queridos e privilegiados do Imperador. Entretanto, tendo se convertido à fé cristã, não titubeou em escolher – ante as honras, as famas e o poder – ficar com Nosso Senhor Jesus Cristo.

São Sebastião não era ingênuo, pois sabia muito bem o que lhe esperava se assim continuasse. Tanto que, uma vez descoberto, o Imperador o chamou e, diante de todos, ordenou que ele renunciasse à fé cristã, ou seria expulso do rol dos grandes oficiais da Legião Romana e executado. Em nenhum momento ele pensou duas vezes. Diante de todos, afirmou a sua fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, o que lhe valeu o suplício a flechadas e deixado sozinho numa árvore, a sangrar. À noitinha, uma piedosa senhora chamada Irene (n.d.r.: Santa Irene da Tessalônica, cuja festa é comemorada em 5 de abril) vai até Sebastião com outras mulheres; percebendo que está vivo, leva-o para casa e trata as suas feridas.

Mas Sebastião, que poderia tranquilamente fugir e proteger a sua integridade física e moral (o que, em si, não é nenhum pecado), quis dar testemunho e ir contra o massacre de cristãos realizado pelo Imperador. Foi ter com Diocleciano e protestou por causa dos massacres, sendo novamente condenado, desta vez, à morte a pauladas e flagelação com bolas de chumbo, vindo a falecer. Seu corpo foi sacudido nas fossas, para que se evitasse a veneração pública; mas uma senhora chamada Luciana (n.d.r.: Santa Luciana, cuja festa é comemorada em 30 de julho) junto com outras piedosas mulheres recolheram o corpo de São Sebastião.

Num certo ano – se não me engano, entre 500 e 600 – houve uma grande peste em Roma, e os devotos de São Sebastião, com o seu corpo, seus restos mortais, fizeram uma grande procissão, e a peste veio a cessar imediatamente. Por isso, até hoje recorremos a São Sebastião contra as guerras, as pestes e as epidemias.

Que a coragem e a determinação de São Sebastião nos inspirem, tal como canta um hino em sua homenagem: “Ele era uma pomba entre os fracos, mas um leão entre os fortes; desprezou toda a corte, desprezou todo o temporal, desprezou toda a honra, toda a glória, por Cristo Nosso Senhor”.

Sigamos a São Sebastião e vivamos o nosso martírio, se não físico, mas um martírio moral, como um bom cristão deve ser capaz de suportar. 

Que São Sebastião, do Céu, interceda por todos nós, e mais particularmente por esta Paróquia que o venera e o honra.

Homilia proferida em 20 de Janeiro de 2012, na Festa de São Sebastião Mártir.

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LEITURAS

EPÍSTOLA DE SÃO PAULO APÓSTOLO AOS HEBREUS XI, 33-39.

Irmãos: Foi pela fé que os santos venceram o mundo, praticaram a justiça, viram realizadas as promessas, fecharam a boca dos leões e extinguiram a violência do fogo. Foi pela fé que eles escaparam ao aço das espadas, triunfaram na enfermidade, foram heróis na guerra, e desbarataram os inimigos. Foi também pela fé que as mulheres tiveram a alegria de ver os seus mortos ressuscitados. Outros deixaram-se torturar voluntariamente, não querendo que os libertassem, a fim de encontrarem uma ressurreição melhor. Outros foram escarnecidos, açoitados, e até algemados e presos. Pela fé muitos foram apedrejados, serrados, postos à prova, e passados à espada. Levaram vida errante, vestidos com peles de ovelha e de cabra, despojados de tudo, perseguidos e maltratados. Pela fé houve homens, - o mundo não era digno deles! -, que andaram errantes no deserto e nas montanhas, escondidos nos antros e nas cavernas da terra: E todos estes, postos à prova para dar testemunho da fé, mostraram-se fiéis a Jesus Cristo, Nosso Senhor.


EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS VI, 17-23.

Naquele tempo: Descendo Jesus do monte, parou na planície, Ele e a comitiva dos seus discípulos, e uma grande multidão de povo de toda a Judeia, de Jerusalém e da região marítima de Tiro e de Sidônia, que tinham vindo para O ouvir, e para serem curados das suas doenças. Os que eram atormentados pelos espíritos impuros, também eram curados. Toda esta multidão procurava tocar-Lhe, porque dEle saia uma força que os curava a todos. Ele, então, levantando os olhos ao céu, disse: “Bem-aventurados vós, os que sois pobres, porque vosso é o reino de Deus; bem-aventurados vós, os que tendes agora fome, porque sereis saciados; bem-aventurados vós, os que chorais agora, porque vos alegrareis; bem-aventurados sereis quando os homens vos detestarem, vos repelirem, vos injuriarem, e proscreverem o vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem. Rejubilai e exultai, nesse dia, porque será grande a vossa recompensa no céu.”

23 de jan. de 2012

4º Domingo do Advento: Que nosso coração esteja preparado para acolher o Menino Deus!


Homilia da Missa do 4º Domingo do Advento


Pe. Marcelo Tenório

. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

Estamos na última semana do Advento. Passamos por todas as fases deste tempo litúrgico; desde as Missas Rorate, como nas Missas dos Domingos do Advento, Nosso Senhor nos fala claramente sobre a vigilância, a necessidade de estarmos prontos, esperando por Sua chegada.

Há dois aspectos desta chegada do Senhor: o primeiro, pela graça – e isto acontece mediante a recepção digna dos sacramentos e pela permanência nessa graça; segundo, a vinda real, concreta, no último momento de nossa vida sobre a terra.

Neste tempo do Advento, nos santos Evangelhos, Nosso Senhor nos falou muito sobre a vigilância, sobre a necessidade de se estar pronto. Neste último Domingo do Advento, o santo Evangelho nos apresenta a figura de João Batista, o qual vai clamar: “Sou a voz que clama no deserto: Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas.” A última voz que escutamos neste Domingo, último do Advento, é justamente a voz de João Batista, a nos dizer: “Preparai os caminhos do Senhor”. “Preparai”, “Endireitai as suas veredas”.

A Epístola que acabamos de escutar, escrita por São Paulo, nos ensina que o que se espera de um ministro de Deus – mas também cabe a todos nós – é que ele seja fiel. O que se espera de um católico, de um batizado, é que ele seja fiel. Mas, fiel a quê? Fiel a Nosso Senhor! E através da Igreja permanecemos fiéis a Nosso Senhor.

Em que consiste esta fidelidade a Nosso Senhor? Sobretudo em viver a vida segundo a vontade de Deus, submeter-se a Deus. Não basta buscarmos outros tipos de fidelidade, até certos “fideísmos”. Não adianta nada disso se, no fundo, não praticarmos o que de fato interessa, que é a fidelidade a Deus, que é a fidelidade à Igreja. E esta fidelidade a Deus passa por um primeiro momento, que é a nossa conversão – endireitar os caminhos do Senhor, preparar o caminho do Senhor, estar pronto constantemente para a vinda do Senhor.

Não sabemos quando será a vinda do Senhor, por isso temos que estar preparados. Pode ser hoje ou daqui dez anos; não sabemos o dia em que deixaremos esse mundo e não sabemos o momento em que morreremos. Mas sabemos que Ele vem em cada Missa e que Ele se dá em cada santa Comunhão; que Ele está presente pela graça nos Sacramentos. Ora, isto sabemos. E, se sabemos que em cada Domingo há uma santa Missa, e que nesta santa Missa recebemos verdadeiramente Deus em corpo, sangue, alma e divindade, então é uma vinda já anunciada. E se sabemos que Ele se faz presente nestas ocasiões, que Ele se dá em sacrifício, que com Ele nos encontraremos na santa Comunhão, qual a justificativa de não estarmos prontos para este encontro? Qual a justificativa para que não estejamos prontos para esta vinda? Só existe uma única “justificativa”: o pouco caso que fazemos de Deus. Brincamos com Deus! E nos dizem as Sagradas Escrituras: “Presta atenção: com Deus não se brinca”.

E nos acostumamos a brincar com Deus, e muitas vezes, de forma indigna, recebemos os santos Sacramentos ou, senão de forma indigna, de uma forma duvidosa, uma vez que não há em nós uma contrição perfeita, um desejo na alma de romper com o pecado, a busca de se recompor dos erros de outrora e de recomeçar concretamente.

Pois bem! Última semana do Advento, último Domingo do Advento, daqui a poucos dias estaremos celebrando o Natal do Senhor. Já é para estarmos prontos, bem preparados para essa vinda do Senhor.

Nestas alturas, com certeza já fizemos uma grande, santa e boa confissão. Nestas alturas, com certeza, já colocamos diante de Deus toda a nossa miséria. Nestas alturas, com certeza, o nosso coração já está límpido, qual manjedoura digna de acolher a Nosso Senhor na noite santa de Natal. Se não estamos ainda, temos a obrigação fazê-lo. Tivemos quatro semanas e, até agora, em nada nos preparamos? Talvez a casa esteja em ruínas. Talvez a nossa manjedoura não seja digna do Menino-Deus, mais própria de manjedouras para porcos, quando, na verdade, quem deve se deitar sobre esta manjedoura é Nosso Senhor, que descerá do céu por cada um de nós.

É extremamente necessária a nossa preparação. É extremamente necessário levar a sério esta vinda mística, espiritual, pela graça. Através, sobretudo, da Santa Comunhão, mas, para isto, antes, a santa, sincera e boa confissão, que já era para termos feito. Se não a fizemos, temos que repensar por que, na verdade, estamos na Igreja para mudar de vida de vez, para romper de vez com o pecado ou para buscar matérias e mais matérias para nossa condenação ao fogo do inferno? Porque quanto mais nos aproximamos de Deus e não rompemos com o que Lhe é antagônico; quanto mais estamos na casa de Deus, mas em nada mudamos; quanto mais escutamos os Seus apelos e não respondemos favoravelmente; tudo isso, todas essas questões, todo esse tempo perdido de graça será motivo de condenação em nosso julgamento. “Dei-te tantos dias, tantas semanas, tantos anos; dei-te tantas semanas de preparação para o tempo do Advento, para que, chegando meu Natal, estivesses, enfim, pronto; e o que fizeste deste tempo? Dei-te tantas e tantas graças; quais delas aproveitaste? Pisaste nelas como os porcos fazem com as pérolas – porcos não sabem diferenciar bolotas de pérolas”. E, muitas vezes, fazemos com as graças de Deus o que os porcos inconscientemente podem fazer com coisas preciosas que algum desatento tenha deixado cair próximo de onde eles comem.

Lembremo-nos da máxima de Santo Agostinho que diz “Tenho medo do Deus que passa”. O Natal se aproxima. Daqui a poucos dias, Nosso Senhor estará nascendo nas Igrejas, nos templos sagrados, misticamente na santa Missa pela renovação do santo sacrifício. A graça de Deus é infundida em nossas almas na santa Comunhão, mas, sobretudo, antes de tudo isso, pelo Sacramento augusto da confissão.

Que o Natal do Senhor seja para nós esse Natal onde verdadeiramente Cristo nascerá no aconchego da nossa alma iluminada, no aconchego da nossa alma preparada, no aconchego da nossa alma pronta para receber tão grande graça, a Graça das graças, que descerá no Natal e que quer habitar em nosso meio. Ele se faz carne para habitar entre nós; em toda Missa, é lido do Último Evangelho: “E o verbo se fez carne, e habitou entre nós”.

Que possamos, reconhecendo este tão grande mistério, não desperdiçar o tempo que nos dá a misericórdia de Deus, porque este tempo que nos dá a misericórdia de Deus para a nossa conversão um dia poderá ser para nós violência de Deus – condenação divina sobre aqueles que, tendo tempo, não o aproveitaram; passando pelo tempo, não o viveram dignamente como cristãos, ou seja, aproveitando cada instante, cada segundo,, o que lhe resta para estar cada vez mais perto de Deus e fazer do coração sempre uma digna morada para Nosso Senhor.

Sempre será Natal naqueles em que a graça habita, naqueles cujos corações iluminados pela presença divina não conhecem a decrepitude de uma noite sem luz, de uma noite mergulhada nas trevas.

Imitemos as pessoas que, na nossa vida, deram exemplo de santidade, sobretudo os Santos, que estão em nossos altares e que nos testemunharam esta grande verdade de tudo rejeitar, de tudo recusar, de perder tudo para não perder O TUDO que é Nosso Senhor, como dizia São Francisco:Meu Deus e meu tudo”.


Homilia proferida em 18 de Dezembro de 2011.

18 de jan. de 2012

MISSA EM HONRA A SÃO SEBASTIÃO, 20/01, 12h


Caros amigos,
Salve Maria!

Nesta sexta-feira, dia 20 de janeiro, comemora-se a festa de São Sebastião, mártir, padroeiro da paróquia e deste blog.

Convidamos a todos para assistirmos juntos à santa Missa Tridentina em honra deste grande mártir, que será celebrada pelo Reverendíssimo Padre Tenório, dia 20, às 12 horas (meio-dia).

Sancte Sebastiáne, ora pro nobis!

In Christe Fide,
Sacerdos

12 de jan. de 2012

3º Domingo do Advento: "Alegrai-vos sempre no Senhor; repito, alegrai-vos!"



Homilia da Missa do 3º Domingo do Advento

Pe. Marcelo Tenório

. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

A Santa Igreja celebra hoje o Domingo da Alegria, o Domingo “Gaudete”. Por isso, a Missa de hoje, o seu Intróito, como também a Epístola, exortam-nos a nos alegrarmos no Senhor: “Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete”. “Alegrai-vos sempre no Senhor; repito: alegrai-vos”. O Terceiro Domingo do Advento é o domingo em que a Igreja, na certeza da vinda do Senhor pela graça do Natal, já goza antecipadamente das alegrias da festa que se aproxima.

O tempo do Advento, como sabemos, não é um tempo de festa; é um tempo de penitencia, é um tempo – usando um português vulgar – de fazermos uma retrospectiva minuciosa da nossa vida, um balanço, como se diz no comércio. O que se faz no comércio durante o balanço? Fecham-se as portas, joga-se tudo ao chão, tira-se tudo da gaveta, e vai-se ver o que presta e aquilo que não presta, e que, portanto, deve ser jogado fora, no lixo.

Assim para nós é o tempo do Advento, que não é um tempo de festa, mas é um tempo para pararmos e observarmos bem a nossa vida. Por quê? Porque o Senhor se aproxima de nós, e se aproxima de nós pela graça. É claro que naturalmente Ele já nasceu; entretanto, pelo Sacramento nós temos esta esplêndida graça de estarmos verdadeiramente no momento de Seu nascimento, e, neste momento, que também a nós envolverá, recebermos a graça reservada a esta ocasião. Não é uma recordação, não é uma memória histórica, nada disso; é uma memória no sentido teológico de estar acontecendo naquele momento, e isso, somente pela ação do Espírito Santo, sobretudo no santo sacrifício da Missa.

De forma que os ritos do Advento são gradativos. Nas primeiras semanas, a Igreja se abstém das flores dos altares e coloca, ao invés das flores, ramos secos. Por que esta “secura”? Porque ela quer nos lembrar o deserto, o deserto onde João estava, e onde João convidava o povo a se aproximar para fazer penitência – sair da vida velha para a vida nova. Na secura não há água, não há vida; por isso a Igreja coloca no tempo do Advento, sobretudo nas Missas Rorate cæli, esta esplêndida ação do sacerdote pelos fiéis, na qual roga a Deus que rasgue as nuvens e faça chover sobre este deserto, sobre esta terra seca, a salvação. E este deserto, esta terra seca e estes ramos secos colocados nos altares nada mais são do que as nossas almas, e nosso coração que despreza as graças que Deus constantemente nos dá. E, como lembrávamos ontem na Missa Rorate cæli, as graças de Deus são como o orvalho que molha o deserto do nosso coração e que nos impulsiona para Deus.

É um grande momento de graça o tempo do Advento, onde a misericórdia de Deus se desfaz em névoa e orvalho. Entretanto, para muitos e muitos que não aproveitam estas graças – e, aqui, lembramos das pérolas lançadas aos porcos, da comida, dos pães jogados aos cães - aí nos veremos como porcos, aí nos veremos como cães, porque não são os demônios que rejeitam a graça de Deus, somos nós! Não são os demônios que desdenham da grandeza, da misericórdia divina, somos nós! A cada Advento, a cada ano, continuamos secos, com os corações endurecidos; e a Igreja clama que as nuvens orvalhem a justiça de Deus, e nós permanecemos sob estas nuvens desarmados; recebemos este orvalho e pensamos que sabemos cuidar muito bem dele para santificar em nós as flores da graça, mas só “fazemos de conta”, porque na verdade atravessamos o Advento impermeáveis até chegar o Natal. E, quando chega no Natal, ocorre uma catástrofe, porque, em vez de o Senhor nascer no solo fértil do nosso coração, irrigar nosso coração, nasce na podridão de uma vida velha, das graças desprezadas.

E esta grande misericórdia que foi para nós o tempo do Advento, no dia de nosso juízo se transformará no grande dia de ira e vingança. Por quê? Pelo mesmo motivo que Jerusalém foi destruída; quando nosso Senhor chora sobre Jerusalém, Ele fala: “Jerusalém, Jerusalém quantas vezes eu quis te reunir como a galinha reúne os seus pintinhos, e tu não quiseste! Pois tu ficarás deserta, e destruídas as tuas ruas, porque não soubeste o tempo em que foste visitada”.

Santo Agostinho nos traduz outra frase: “Tenho medo do Deus que passa”. E é verdade. Mais um Advento e continuamos secos. Por isso que, no Advento, as flores não são colocadas nos altares, a cor roxa mostra-nos o peso da nossa responsabilidade, de mudarmos de vida – primeiro, com uma boa e santa confissão, rompendo definitivamente com o pecado, fazendo nosso propósito de mudança de vida; praticando a esmola, a oração, o jejum; redobrando as vigílias, redobrando as penitências, sempre, claro, com a confirmação do confessor ou do diretor espiritual.

E chega, então, o Domingo da Alegria, em que a Igreja, em vez do roxo, se reveste da cor rósea, sendo um gozo antecipado da alegria do Natal. E, neste dia a Igreja pára a penitência, a Igreja coloca flores cor de rosa em seus altares para lembrar a nós: “Ele está próximo!” “Alegrai-vos, porque a vossa salvação se aproxima”.

A alegria é um dos frutos do Espírito Santo, e que não podemos confundir com a euforia, porque a euforia é avassaladora, vem e passa, e, muitas vezes ao vir, sempre deixa o rastro de destruição. O carnaval, como festa diabólica que é, não contém alegria, porque a alegria vem de Deus, o Espírito passa por nós, nos edifica e a Deus volta; a euforia, não, a do carnaval, das festas pagãs, etc. Esta vem de forma avassaladora, e deixa o quê? Destruição! Desnorteamento! E afastamento de Deus. Isso não é alegria. A alegria vem de Deus, e deve voltar a Deus. E edifica. E santifica. E renova. Isso é a ação de Deus.

A alegria não é a ausência da dor. A Santíssima Virgem, aos pés da cruz, tendo o seu coração rasgado pela dor, estava profundamente alegre, porque a sua alegria era in Domino, como cantam o Intróito e a Epístola: “Alegrai-vos no Senhor”. A nossa alegria só tem sentido no Senhor; se é uma alegria que não é no Senhor, então ela é infantil, ela é imatura; ela é sem sentido, irracional... E desta “alegria”, o mundo está cheio; desta aparente alegria, a sociedade está cheia, se enganando, se “alegrando” para cair na perdição.

A grande palavra de ordem para nós é “Alegrai-vos, o Senhor se aproxima”. João Batista já aparece no Evangelho para nos dizer: “Preparai os caminhos do Senhor!” “Eu não sou o Cristo, não sou o Messias; eu sou apenas a voz que clama no deserto: preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”. Que nós correspondamos urgentemente, porque já não há mais tempo. Já não há mais tempo para brincadeira, já não há mais tempo para adiarmos a nossa conversão, porque Aquele que hoje age para nós com estrondosa misericórdia, amanhã será nosso Juiz, e no Seu Tribunal, esta grande misericórdia, estas grandes graças enviadas para nossa salvação serão revertidas no rigor de um julgamento, do qual ninguém escapará. Lembremos de outra parte do Evangelho que nos diz: “Servo mal e preguiçoso! Não sabias que eu colho até onde eu não semeei?” Ora, se há um patrão severo, que irá pedir contas até daquilo que não deu, quanto mais daquilo que ele deu, que ele dá a cada instante...

Neste Domingo da Alegria, alegremo-nos. São Domingos Sávio dizia a Dom Bosco: “Ensina-me a ser santo depressa, eu quero ser santo depressa”, e Dom Bosco deu a São Domingos Sávio três conselhos para se chegar à santidade; e, entre eles, um grande conselho ele deu e que serve para nós: “Seja sempre alegre”. E esta alegria é no Senhor, porque a alegria que não é no Senhor é bobeira, é típica de alguém que ficou na eterna infantilidade, no esquecimento espiritual, é romantismo barato. A alegria verdadeira é aquela em que o fiel, mesmo na dor, mesmo com o coração despedaçado, mantém-se livremente alegre no Senhor.

Ouçamos São Paulo, ouçamos a Igreja que nos exorta a estarmos sempre alegres, nesta alegria que jamais passará, nesta alegria que vem de Deus, que penetra o nosso ser e nossa alma, e, penetrando o nosso ser e a nossa alma, eleva-nos para o Céu, eleva-nos para Deus. Quando na Missa o sacerdote diz: “Sursum corda” – corações ao alto – estes corações ao alto são os corações na alegria do Espírito, na alegria de Deus. Que só esta alegria, que, para nós, é o antegozo do Céu – porque no Céu gozaremos de uma eterna e profunda alegria – possa permanecer, mesmo no tempo do Advento – e ela deve permanecer mesmo no tempo do Advento em nossos corações.

Gaudete in Domino semper, como diz São Paulo e repete com muita firmeza: “Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete” – “Alegrai-vos, alegrai-vos, alegrai-vos, eu vos digo, eu vos repito, alegrai-vos”.

Homilia proferida em 11 de Dezembro de 2011.

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LEITURAS

EPÍSTOLA DE SÃO PAULO APÓSTOLO AOS FILIPENSES IV, 04-07.

Irmãos: alegrai-vos sempre no Senhor, repito, alegrai-vos. Seja conhecida de todos os homens a vossa mansidão. O Senhor está perto. Não vos inquieteis por coisa alguma, mas, em todas as circunstâncias apresentai os vossos pedidos diante de Deus com muita oração e preces e com ação de graças. A paz de Deus, que sobrepuja todo o entendimento, guarde vossos corações e vossos pensamentos em Cristo Jesus, nosso Senhor.


EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO I, 19-28.

Naquele tempo: Os judeus de Jerusalém enviaram a João sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: “Quem és tu?” Ele fez esta declaração, que confirmou sem hesitar: “Eu não sou o Cristo”. “Pois então quem és, perguntaram-lhe eles. És tu Elias?” Disse ele: “Não o sou”. “És tu o Profeta?” Ele respondeu: “Não”. Perguntaram-lhe de novo: “Dize-nos, afinal quem és, para que possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?” Ele respondeu: “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaias”. (Os emissários eram fariseus). Continuaram a perguntar-lhe: “Como, pois, batizas se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o Profeta?”. João respondeu: “Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. Esse é quem virá depois de mim. Eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado”. Esse diálogo se passou em Betânia, alem do Jordão, onde João estava batizando.

3ª Missa Rorate: Convertamo-nos, pois está próxima a Justiça de Deus!



Homilia da terceira e última Missa Rorate de 2011, em honra à Santíssima Virgem no Advento


Pe. Marcelo Tenório

. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

Estamos, nesta noite, em nossa última Missa Rorate, em preparação à vinda de Nosso Senhor.

Na vigília noturna, sempre são poucas as pessoas que ali ficam para vigiar. Foi assim também na época de Nosso Senhor. Em sua suprema angústia no Getsêmani, poucos estavam ali com Ele. Onde estavam as multidões? Onde estavam aquelas pessoas que queriam curas e milagres? Onde estavam aquelas pessoas que queriam favores de Nosso Senhor? Pior ainda: onde estavam os seus? Dormindo! Enquanto os seus estavam dormindo, Judas estavam bem desperto. No Ofício das Trevas [n.d.r.: é o Ofício de Matinas do Breviário Romano, rezado nas madrugadas da Quinta-Feira e da Sexta-Feira Santas] um dos cânticos fala para nós que, enquanto todos dormiam, Judas não; Judas permanecia desperto.

Assim são as trevas. Enquanto os fiéis dormem, as trevas estão despertas. Judas não dormia. Seus seguidores também não. E nós dormimos. Era para este ambiente estar cheio de fiéis diante do altar de Deus, em vigília, com Nossa Senhora, em contemplação a esse mistério tão grande que se aproxima e que não levamos a sério.

A sagrada Liturgia nos dá a graça de estarmos juntos com o Senhor nos seus mistérios. Não se trata de uma recordação, mas de “presença”, de uma memória que significa “tornar de novo presente”. Por isso que, nas Santas Missas, sejam quais forem os mistérios [n.d.r.: festas, comemorações] que se celebram, a Igreja os celebra recordando verdadeiramente, de fato, aquele acontecimento no tempo. A 15 de agosto, na Festa da Assunção de Maria, a Igreja canta: “Hoje, a Virgem Maria subiu aos céus de corpo e alma”, e nós estamos ali, não fazendo uma retrospectiva histórica, mas com Nossa Senhora, verdadeiramente no momento de sua Assunção aos céus.

E aqui estamos nessa Missa Rorate, com Nossa Senhora, em suas noites silenciosas que antecederam o Natal do Senhor. Neste sentido, poderíamos, usando o método de moção de afetos de Santo Inácio, contemplar todos os sentimentos da alma e do coração de Nossa Senhora: todas as suas expectativas, todas as suas alegrias e exultações, todos os seus medos, inquietações diante daquilo que Ela mesma sabia que iria acontecer.

Então, estamos findando a sequência das três Santas Missas Rorate, implorando a Deus que as nuvens chovam a Sua justiça sobre nós.

A verdade é que somos muito ingratos com o Senhor, porque em cada sacramento, em cada mistério, em cada Santa Missa, as nuvens se rasgam, e caem sobre nós as graças de Deus, das mais abundantes graças. E aí está a misericórdia de Deus, mas também está a violência do Seu julgamento. Como disse Santo Agostinho: “Tenho medo do Deus que passa”. Quanto mais recebemos graças necessárias, eficazes, para que, ao chegar o Natal, sejamos homens novos, estejamos com o nosso coração pronto para que o Menino nasça, maior será a nossa responsabilidade e a exigência de Deus para que, ao chegar o Natal de Seu Filho, estejamos prontos.

Num outro Evangelho, Nosso Senhor, numa de suas parábolas, cita o patrão que repreende o servo inútil: “Servo mau e preguiçoso, tu não sabias que eu colho aonde nem sequer semeei?” Olhem: Nosso Senhor está dizendo que exigirá de nós até aquilo que não nos deu. Até aquilo que não nos deu, Ele vai exigir de nós... Ora, se há um Senhor das nossas vidas que nos exigirá tudo e até aquilo que não deu, significa que temos que cuidar para que frutifiquemos aquilo que Ele nos deu. Porque se não entregarmos a Ele aquilo que nos deu, que era nossa obrigação entregarmos frutificado, sua misericórdia se transformará em violência de justiça.

Porque Ele é misericordioso que Ele é justo. E, por que Ele é justo? Porque Ele é misericordioso.

Nosso Senhor irá cobrar de nós severamente pelo tempo desperdiçado. Como somos tíbios! Como somos preguiçosos! Como fazemos pouco caso da Palavra de Deus! Como não nos damos conta de que, através do rito sacramental, o mistério se coloca à nossa frente, para que dele bebamos e, para que através dele, recebamos as graças necessárias para nossa salvação! Por isso somos merecedores do inferno: porque os desperdiçamos, ou pisamos nele; somos piores que cães, ou que os porcos! Nosso Senhor já havia dito: “Não entregueis as coisas santas aos cães, e não jogueis pérolas aos porcos”. Muitas vezes os porcos somos nós; quantas pérolas, quantas graças recebemos, e continuamos na mesma, somos incapazes de nos levantar, de melhorar um pouco!

Chega mais um final do Advento e, nas próximas semanas, começarão as Antífonas Maiores, já nos dizendo que o Emanuel está próximo, que o Senhor está chegando e a Igreja está avisando... Aqueles empregados não sabiam quando o senhor iria chegar; mas, a nós servos inúteis, o Senhor está nos avisando: “Falta pouco tempo!” No dia 17, começam as Antífonas Maiores, e, depois, vem o dia 24, do Nascimento de Jesus na nossa alma. E o que espera Nosso Senhor? A podridão de nosso pecado, da nossa incontinência, da nossa insensatez? O que é que, na verdade, queremos, e para onde estamos indo? Para o Céu ou para o inferno?

Mais do inferno somos dignos à medida que mais temos consciência disso tudo, se continuamos na mesmice de uma vida velha, de uma alma apodrecida pelo pecado, de um eterno retorno ao pecado, se até hoje não conseguimos caminhar linearmente, se até hoje não conseguimos crescer nas mínimas virtudes para, a partir daí, começarmos a caminhar verdadeiramente os passos de uma vida espiritual reta e santa que nos conduzirá aos mistérios insondáveis de Deus, que nos aguarda já nesta vida, para que dEle desfrutemos...

Assim é a vontade de Deus. Assim é a ação de Deus na alma. Assim é a ação do Espírito Santo na alma. Não nos iludamos! Não nos iludamos de que poderemos chegar a um estágio na vida espiritual sem passarmos pelo necessário, que é a purificação, o processo de eliminar o pecado, de violência contra a nossa carne, de violência contra nós mesmos – e aí, entra a penitência, a mortificação, a oração, a vigília para que esta pedra bruta, que somos nós, seja lapidada e, então, assim comecemos a adentrar neste mistério da vida espiritual.

Só os tolos acreditam que qualquer pessoa, de qualquer jeito, mergulhada no seu pecado, recebe favores místicos de Deus. Só os tolos! Só os tolos... Só os carismáticos desavisados que podem acreditar que alguém que há anos não se confessa, que nunca se confessou, pode entrar em êxtase, ou ter outros merecimentos carismáticos (no bom sentido da palavra, por ação de Deus na alma) como os Santos tiveram. Só os tolos acreditam nisso! Então, antes de buscarmos favores de Deus, dos quais não somos merecedores – e dEle não devemos pura e simplesmente “buscar favores”, não estamos aqui para isso – devemos buscar a santificação da nossa alma, coisa que não estamos fazendo.

E, nesta Missa Rorate, vamos pedir a Nossa Senhora – Aquela que conseguiu tanta graça diante de Deus – que consiga para nós esta imensa graça de podermos, a partir de hoje, colocar um ponto final na nossa vida velha, e fazer com que, nesta data de hoje, nesta noite, esta última Missa Rorate seja o início de nosso caminhar espiritual, sempre crescente, para o alto, para o Céu e para Deus. Há de chegar um dia em que teremos de romper com o pecado – ou nos condenaremos, ou o fogo do inferno será a nossa agonia para sempre – há de chegar... O que não se pode é um eterno retorno – “não vai para cá, não volta para lá” –, abandonar a Jesus e não perceber que as Suas graças estão caindo sobre nós. E, se essas graças são para nós ação visível da sua misericórdia, elas mesmas se tornarão mais tarde violência no julgamento.

Às freiras tíbias de seu convento que já não rezavam e já se preocupavam com sua vocação, Santa Teresa de Ávila disse: “Sejam ‘homens’!” Nós precisaríamos muito que uma Teresa de Ávila viesse a nós, a nos dizer: “Seja viril! Avance! Rompa! Cresça! Almeje coisas maiores, as coisas do alto!”. Que Nossa Senhora nos ajude, a partir de hoje, a partir desta noite, a ficarmos livres do diabo. Que as coisas velhas fiquem para trás e possamos começar agora a nossa vida nova em Deus, com determinação, com firmeza, nas vigílias, nas penitências, na oração profunda, na meditação – claro que, tudo isso, com o beneplácito do diretor espiritual ou do confessor, mas determinadamente rumando para Deus, para o Céu, para a eternidade.

Que Nossa Senhora, no silêncio desta noite, nos dê a graça de uma conversão profunda, determinada e determinante.


Homilia proferida na 3ª Missa Rorate, em 10 de Dezembro de 2011.

9 de jan. de 2012

Missa Tridentina todo dia 10, em honra a Santa Filomena e pelos enfermos


Todo dia 10 de cada mês, às 17 horas, será celebrada na Paróquia São Sebastião Missa em honra a Santa Filomena.

Nesta Missa - também celebrada em favor dos enfermos - será distribuído o óleo de Santa Filomena, por meio do qual já se alcançaram muitas graças e milagres. Poderosíssima intercessora junto a Deus, a veneração desta santa foi amplamente encorajada por São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars, que impulsionou toda a devoção a ela, tendo criado um santuário em sua honra. Também vários Papas e doutores da Igreja incentivaram sua veneração pública, mandando construir igrejas e divulgando seus milagres, entre eles os papas Gregório XVI (que a declarou oficialmente Virgem e Mártir), Pio IX, Leão XIII e São Pio X.

Sua festa é celebrada no dia 10 de agosto.

Clique aqui para acessar a Novena de Santa Filomena.

Santa Filomena, rogai por nós!

3 de jan. de 2012

2º Domingo do Advento: "Preparai os caminhos do Senhor!"



Homilia da Missa do 2º Domingo do Advento


Pe. Marcelo Tenório

. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in muliribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc ET in hora mortis nostrae. Amen.
. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

Segundo Domingo do Advento. Aproximamo-nos do Natal do Senhor.

No Santo Evangelho de hoje, os discípulos de João vão até Jesus, e lhe perguntam: “Tu és Aquele que esperamos?” João mandou perguntar. Claro que São João Batista sabia que Jesus era o Cristo, que Ele era o Messias. Mas João não responde de forma direta aos seus discípulos; São João Batista deseja que eles mesmos possam ver e ouvir. E eles se dirigem até Jesus: “Tu és o Messias, Aquele que esperamos?” “Ou devemos esperar, aguardar outro?”. Nosso Senhor também não responde “Eu sou o Messias esperado”, mas faz como João Batista, respondendo: “Dizei a João que os cegos veem, os coxos andam, os surdos escutam e a boa nova é anunciada aos povos.”

Quando eles saem, Nosso Senhor já sabe que João está no cárcere e que vai morrer. E Nosso Senhor, dirigindo-se àquela multidão que estava ali – todos, na sua maioria, discípulos de São João Batista, ou, de uma forma ou de outra, já tinham essas pessoas acorrido a João – pergunta a eles: “O que fostes ver no deserto? O que vocês foram ver por lá? Um caniço?” O que é um caniço? O caniço é uma planta que não se quebra facilmente; ele se dobra, é leve, vai para onde o vento sopra, para onde o vento está mais forte. “Então o que vocês foram ver no deserto? Um caniço?” Ora, João jamais fôra um caniço, muito pelo contrário: de palavras duras, determinadas, fortes, seguiu preparando o caminho do Senhor destemidamente; quer agradasse, quer desagradasse, anunciava aquilo que, da parte do Senhor, lhe tinha sido ordenado, sem respeitos humanos, sem amores, sem paixões, buscando unicamente a Deus.

Logo, São João Batista não era um “caniço”! “Caniços” são como essas pessoas que não querem desagradar a ninguém, que não querem descontentar ninguém. “Caniços” são como essas pessoas que são amigas de todo mundo, até dos inimigos de Deus, porque não sabem constranger, não sabem dizer não, não sabem perder! Ora, os inimigos de Deus são nossos inimigos! Os inimigos da Igreja são nossos inimigos! Quem ama a verdade odeia a mentira! Quem ama a Deus odeia aquilo que não leva a Deus! Quem ama a virtude odeia o pecado! De forma que, quanto mais crescemos em Deus, vamos ganhando amigos e inimigos. Era Aristóteles que nos dizia: “Aquele que é amigo de todos não é amigo de ninguém.” É uma grande verdade. São João não é um “caniço”, por isso Nosso Senhor pergunta: “O que vocês foram ver no deserto? Um caniço? O que vocês foram ver no deserto?...”

E o Evangelho fala: “João vivia no deserto, fazendo penitências, vestido de lã, sem nenhum conforto, comendo qualquer coisa.” “Vocês foram ver o que no deserto? Um homem vestindo roupas finas? Com gestos refinados? Não! Os homens que vivem assim, vivem nos palácios.” E é próprio do homem a virilidade, o trabalho duro, pesado; não é próprio do homem muito conforto, muita fineza... “Vocês não foram ver um homem ‘delicado’ no deserto”, muito pelo contrário! A virilidade de João, sua determinação, um homem dado à penitência e às vicissitudes do deserto, sem nenhum conforto. E isso nos lembra que não cresceremos na virtude enquanto buscarmos trajes refinados, luxo, comodismos, chegando-se ao absurdo – e, às vezes, isso acontece – de se procurar igrejas que tenham uma climatização muito boa, para que eu e o outro não passemos por apuros de calor. Que absurdo! Como se no Calvário tivesse ar condicionado! E, assim, ainda queremos entrar no Céu, sem nenhuma penitência, sem nenhuma mortificação! Somos incapazes de fazer um jejum, somos incapazes de renunciar, no dia a dia, às coisas que nos regalam, por penitência, por amor a Deus! E, apesar disso, achamos que entraremos no Reino dos Céus!

Santa Teresa de Ávila – a “grande Teresa” – diante de sua comunidade composta de um determinado número de irmãs Carmelitas – a maioria tíbia, pois não rezavam mais, tudo lhes custava, tudo lhes era peso – energicamente lhes falou: “Sejam ‘homens’! Sejam viris!” Ah, se Santa Teresa nos dirigisse a palavra hoje, ela nos diria a mesma coisa: “Sejam ‘homens’! Sejam determinados, firmes espiritualmente”. Quem muito quer o cômodo, quem muito quer sombra, quem muito quer conforto, jamais galgará a santidade.

Então o que fomos ver no deserto? Não fomos ver um caniço, porque ele [n.d.r.: São João Batista] não é um caniço. Não fomos ver uma pessoa delicada, porque ele não é um delicado. “Então, o que vocês foram ver no deserto?” E Nosso Senhor faz aquele belíssimo louvor a João Batista, que ninguém outrora tinha feito: “Eu vos digo, ele é mais que um profeta: João é o mensageiro do Senhor que veio anunciar: ‘Preparai os seus caminhos’ ”. João Batista, com sua simplicidade, com sua rudeza, virilidade, determinação e violência, é comparado por Nosso Senhor a um profeta: “Ele é mais que um profeta, é o mensageiro do Senhor”.

Que neste segundo Domingo do Advento, São João Batista interceda por nós, para que possamos, como já dizia um amigo, “fazer das nossas almas, espadas”. E que esta espada possa cortar aquilo que, na nossa vida, está nos levando para o inferno. Que tenhamos coragem de eliminar o que é inútil, de tirar o mal pela raiz; com violência, se preciso for, pois é melhor extrairmos o câncer com violência para dele ficarmos livres do que ficarmos na tranqüilidade, até que o câncer invada toda a nossa alma, até perdermos tudo, até perdermos Deus.

Que São João Batista nos dê esta graça de, continuando o Advento, chegar à noite de Natal determinados; não caniços, mas rochas firmes; não pessoas dadas ao luxo ou ao comodismo, mas homens determinados por Deus, homens que sabem aonde querem chegar, homens que sabem o que querem, tal como dizia Santa Teresinha – que de meiga não tinha nada: “Quero o amor e nada menos; esse amor é Deus, que é violento, que é terrível em excesso de suavidade.”

Homilia proferida em 04 de Dezembro de 2011.

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LEITURAS

EPÍSTOLA DE SÃO PAULO APÓSTOLO AOS ROMANOS XV, 04-13.

Irmãos: Tudo quanto outrora foi escrito, foi escrito para a nossa instrução, a fim de que, pela paciência e consolação que dão as Escrituras, tenhamos esperança. O Deus da perseverança e da consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros segundo Jesus Cristo, para que, unânimes e a uma só voz, glorifiqueis a deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo vos acolheu para a glória de Deus. Digo que Cristo Jesus se tornou ministro da circuncisão, para manifestar a veracidade de deus para cumprimento das promessas feitas aos Patriarcas. Quanto aos pagãos, eles só glorificam a deus em razão de sua misericórdia, como está escrito: Por isso eu te louvarei, Senhor, entre canções e cantarei louvores ao teu nome. Noutro lugar: alegrai-vos, nações, com o seu povo. E ainda diz: Louvai o Senhor, nações todas, e glorificai-o, todos os povos! Isaias também diz: Da raiz de Jessé surgirá um rebento que governará as nações; nele esperarão os gentios. O Deus da esperança vos encha de todo o gozo e de paz na vossa fé, para que, pelo poder do Espírito Santo, superabundeis na esperança!


EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS XI, 02-10.

Naquele tempo: Tendo João, em sua prisão, ouvido falar das obras de Cristo, mandou-lhe dizer pelos seus discípulos: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” Respondeu-lhes Jesus: “Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres… Bem-aventurado aquele para o qual eu não for ocasião de queda!” Tendo eles partido, disse Jesus à multidão à respeito de João: “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que fostes ver então? Um homem vestido de roupas luxuosas? Mas os que estão revestidos de tais roupas, vivem nos palácios dos reis. Mas então, por que fostes para lá? Para ver um profeta? Sim digo-vos eu, mais que um profeta. É dele que está escrito: Eis que eu envio meu mensageiro diante de ti para te preparar o caminho.”

2ª Missa Rorate: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!”






Homilia da segunda Missa Rorate em honra à Santíssima Virgem no Advento

Pe. Marcelo Tenório


. Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus.
. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
. Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix.
. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

A Igreja celebra hoje a Missa Rorate, a Missa Angélica, em cujo Evangelho o Anjo se dirige a Maria nestes termos: “Ave, cheia de graça.” Nossa Senhora é cheia de graça. Se Ela é cheia de graça, então Ela não é carente da graça, e, sim, toda envolvida na graça, e nós sabemos que a Graça é Deus. Neste Evangelho vemos a grandeza da alma de Nossa Senhora, por mérito de Nosso Senhor, pela Sua encarnação que aconteceria logo depois. E Deus, onisciente, sabendo que a Virgem daria o “sim”, na sua concepção a fez pura, santa, imaculada. Por isso, o Anjo pôde dizer: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo.” A Virgem se perturba, não entende o sentido daquela saudação. E o Anjo ajunta: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus” (o Emanuel – Deus conosco).

“Eis que conceberás.” “Como acontecerá isso se não conheço homem?” Ora, Nossa Senhora estava neste momento noiva de José. Desposados, naturalmente teriam filhos logo após o casamento. Como Ela responde ao Anjo com esta interrogação, embora estivesse noiva de José? É porque havia em José e Maria o desejo de serem totalmente de Deus. Nossa Senhora se entrega, assim, ao nosso Deus, assim também como São José.

E o Anjo a tranquiliza: “O Espírito Santo descerá sobre ti, a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra.” Como vemos no Antigo Testamento, o Espírito Santo muitas vezes é relacionado à figura de uma sombra, uma nuvem. Claro, o Espírito Santo não é substancialmente uma nuvem, é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, mas é figurado sob a aparência de uma nuvem; e esta nuvem envolve a Santíssima Virgem.

“O Espírito Santo descerá sobre ti, a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra.” No entanto, esta sombra não significa escuridão. Muito pelo contrário, significa a força de Deus sobre Maria, que se rasgará como uma “nuvem” de água e, ao rasgar-se, a “nuvem” faz descer toda água nela contida – ou seja, neste momento o Espírito Santo desce sobre Nossa Senhora.

São Luís Grignon de Montfort nos ensina que o Espírito Santo, que era “estéril” em Deus, desde todos os séculos, tornou-se fecundo no seio de Nossa Senhora, e, ali, naquele instante,  ocorre a Anunciação e Ela se torna cheia da graça, “grávida”, de Deus. Aquele Deus do Céu e da terra, o El Shaddai [n.d.r.: expressão hebraica que quer dizer “Senhor dos Exércitos] agora está sendo formado no seio da Virgem Santíssima, sendo gerado, assumindo a nossa humanidade, tal como naquele belíssimo Ofício de Nossa Senhora, tão cantado pelo povo simples: “Para que o homem suba às sumas alturas, desce Deus do Céu para as criaturas.”


A Missa Rorate é também conhecida como a Missa Dourada, porque é rezada entre o crepitar das velas (com suas chamas de cor dourada) e a escuridão da noite. A noite é o espaço do demônio, mas também é o espaço da manifestação de Deus. Lembremo-nos que, de noite, Jacó dormia quando teve a visão da escada, daqueles anjos que subiam e desciam. Lembremo-nos, também, que, no silêncio da noite, só a noite viu Cristo no sepulcro; só a noite presenciou a sua Ressurreição. A noite, para nós, cristãos católicos, é tempo de salvação. É a seara do demônio – o demônio age na escuridão da noite – mas para nós, filhos de Deus, a noite significa “a grande esperança”, porque, é na noite, envolta em trevas, que surgem os candeeiros (as graças de Deus, os santos, os mártires) que iluminam a escuridão e incendeiam o mundo inteiro.

A Missa Rorate nos lembra que o Advento é como o deserto, como esta noite com poucas luzes. Por isso, não é tempo de festa, mas é um tempo em que a Igreja promove a oração, a penitência. Sobretudo as velas e o roxo do Advento querem nos lembrar isso: a penitência, a oração redobrada, a vigilância. No Evangelho, sobretudo segundo São Mateus, Nosso Senhor vai insistir muito na vigilância: “Vigiai e orai.” Mostra-se esta vigilância no exemplo da parábola das virgens loucas e das virgens prudentes; o patrão que viaja para o estrangeiro, mas que volta inesperadamente para acertar as contas com seus empregados; e em tantas outras parábolas que Nosso Senhor nos fala para que nós possamos apressar a nossa conversão.

A noite esconde aquilo que, diante do sol, ficaria bem claro para nós. Nossa Senhora é considerada a “Aurora da Redenção”: antes de nascer o Sol da Justiça, que é Nosso Senhor, vem a Virgem Maria, toda resplandecente, quase mais do que o sol, como nos ensina São Luiz de Montfort, “brilhante como o sol, formosa como a lua”. Esta é a nossa Mãe, Maria Santíssima: embora na escuridão, na noite que envolvia a terra após o pecado original, Deus, quando disse à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher”, naquele instante olhava milênios à frente, e vislumbrava a figura santíssima, resplandecente de beleza que é a Virgem Maria.

Por isso, nestas santas Missas que são celebradas antes da chegada do Emanuel, estamos com Nossa Senhora. O Natal não está distante. Após a Anunciação, Ela fica como que espantada diante de tanta grandeza. Quantas noites, silêncio, expectativas, interrogações, orações, e vigílias Nossa Senhora não teria feito antes de chegar o dia do Natal! Se nós, quando estamos e quando vivemos na graça de Deus, buscamos cada vez mais este Deus com orações redobradas e vigílias noturnas como os Santos fizeram e nos dão exemplo, quanto mais Nossa Senhora!

Esta Missa Dourada, a Missa dos Anjos, nos coloca ao lado de Nossa Senhora, no silêncio, na expectativa misteriosa, no mistério sagrado da noite em que Deus se encarnou como homem no Seio Virginal de Maria Santíssima, Virgem e Mãe, para que, chegando a noite santa de Natal, possamos, com Ela e com os Anjos, cantar o Glória – o Glória de exultação, o Glória de alegria – não porque estamos cumprindo apenas rituais, mas porque – e acima disso – ao chegarmos ao dia santo de Natal, já estejamos, então, preparados: o que era treva em nossa alma tenha sido varrido, de nós as trevas tenham sido jogadas fora e, pela graça, por uma conversão constante e por uma decisão de vida nova, assim nos assemelhemos àqueles pastores e até aos anjos que, na noite, cantavam os mais dignos e altíssimos louvores a Deus.

Continuando este Sacrifício da Santa Missa, unamo-nos a Nossa Senhora da Anunciação, que está conosco, e, diante de todos os anjos que estão aqui, sobretudo o Anjo Gabriel, o anjo da Virgem Maria, todos os Santos – sobretudo o Padre Pio, em cujo altar é celebrada esta Missa – nos ajudem, rezem, intercedam por nós, para que, atravessando a noite da escuridão, possamos rapidamente, sem demora, contemplar o Sol da Justiça, que, a cada dia, a cada instante, está mais próximo – cada vez mais próximo! – de nós, da nossa alma e da nossa vida.

Homilia proferida em 03 de Dezembro de 2011.